DIFERENÇAS ENTRE OS MINKISI (plural de Nkisi) DAS CULTURAS E TRADIÇÕES BANTU E OS ORIXÁS (Orisá) DA CULTURA E TRADIÇÃO NAGÔ YORUBÁ.

Irmãos(a) irei tentar mostrar as diferenças que existem entre Nkisi e Orisá, além das diferenças comuns, normais como tradições, culturas, costumes, cultos e fundamentos religiosos, línguas e também as diferenças geográficas que existem entre as regiões (países) dos povos Bantu e Nagô/Yorubá no grande continente Africano.

Além dessas citadas acima, existem também as diferenças diretas entre as Divindades Nkisi e Orisá que falarei à seguir:
Primeiro falarei sobre os Minkisi da cultura e tradição religiosa dos povos bantu, pois será a base do tema.

Os povos bantu de uma maneira geral, cultuam suas Divindades (Mahamba) de uma forma mais simples e natural, que se difere de outros povos, pois as Divindades adoradas, louvadas e cultuadas pelos bantu, são os próprios elementos da natureza, ou seja, a própria Divina Natureza.

As Divindades em seu estado natural, na própria natureza (estado bruto) são chamadas de Hamba (plural Mahamba) até serem, através de rezas (Diambu/Mambu) e fundamentos (Kitungu) trazidas para o nosso meio, para serem iniciadas na cabeça (mutue) do filho (mona) e no assentamento (kunda), onde a mesma será cultuada e seu filho nascerá novamente para ela, fazendo-se uma concentração e ligação direta de energias entre o filho e o assentamento de sua Hamba (NKISI ou MUKIXI).

No processo de iniciação, essa Hamba passará a ser conhecida e cultuada como Nkisi ou Mukixi, pois não está mais em seu estado bruto, natural... já está ligada ao seu filho iniciado para ela (muzenza) e no assentamento onde estará ligada através de todo o processo de fundamentos  e rituais que foram destinado e manipulados naquele recipiente (assentamento = Kunda), também na cabeça (mutue) e no corpo (mukutu) do filho (mona) .

As Divindades Bantu não tiveram passagem pela Terra e nem tão pouco forma humana, são a própria natureza com seus elementos como a chuva, o barro, a terra, as folhas, as pedras, a pedra de ferro, a pedra de raio, as raízes das plantas, as plantas, o vento, o fogo, o raio, o ar, as fontes naturais de água, as nascentes de água, as mudanças naturais de temperatura e de clima, a água, o mar, a larva vulcânica, e etc....

As línguas faladas pelos povos bantu são muitas, mas no Brasil as que mais tiveram destaque nas Jinzo (casas) religiosas de tradição Kongo Ngola e Ngola são o Kikongo, originária dos povos Bakongo da região do Kongo (Congo) e o Kimbundu, originária dos povos da região de Ngola (Angola), principalmente acima do Rio Kuanza (Cuanza), ao redor de Luanda.

Falarei também das outras línguas e seus respectivos domínios territoriais, como por exemplo: Ajaua (Moçambique, Malauí e Zimbábue), Bemba (Zâmbia), Kuanhama (Sudoeste Africano-Angola, Namíbia), Ganguela (Fronteira leste de Angola, oeste de Zâmbia), Iaka (Zaire-Kuango, Casai), Língala (Congo, antigo Zaire e outras áreas da África central), Makua (Moçambique, entre o Rovuma e a Lurio), Nhungue (Moçambique), Nianja (Moçambique, Malauí, Zimbábue), Kioko e Luvate (Chokwe, Leste de Angola), Suaíle (Tanzânia, Zanzibar, Moçambique), Sutho (África do Sul), Tonga (Moçambique, Zimbábue), Umbundu (abaixo do rio Kuanza, principalmente na região de Benguela), Shona (Moçambique, Zimbábue e Botsuana), Zulu (África do Sul, Botsuana) e outras.....

As nações Congo Angola e Angola no Brasil, em termos religiosos, ficaram por muito tempo com a influência do culto Nagô/Yorubá, falo principalmente das casas que não são matrizes ou que não derivam das mesmas....chamomos essas casas que não se ramificam das casas matrizes tradicionais, de "candomblé de beco" sem tradição e sem casa matriz para seguir, praticando em sua grande maioria, um culto alicerçado em muitas misturas, falando línguas diferentes e cultuando Divindades de povos difrentes, uma tremenda "misturéba", gerando dessa forma, um culto superficial, sem idêntidade, trazendo dúvidas e questionamentos para seus filhos e adeptos.


O berço da religião dos povos Bantu no Brasil é a cidade de Salvador-BA, pois foi lá que nasceram e foram fundadas as primeiras três jinzo (casas) matrizes, de tradição Bantu, porém de raizes diferentes!
Falarei apenas da casa ou raiz da qual faço parte, ou seja, a Mansu Bandukenke-Bate Folha, localizada no bairro da mata escura em Salvador, fundada em 1916, pelo sr. Manoel Bernardino Da Paixão, Tata Ampumandezu.
Em 04/12/1929,Tata Ampumandezu inicia seu RIANGA (primeiro filho), Sr. João Correia de Mello (Lesenge), que futuramente, fundaria na cidade do Rio de Janeiro, uma das casas de maior tradição e respeito do Brasil, a inzo Kupapa Unsaba...
Em janeiro de 1938, Tata Lesenge migra para o Rio de Janeiro e lá no ano de 1941, funda a grande inzo Kupapa Unsaba.... após seu falecimento no ano de 1970, a raiz Kupapa Unsaba, recebe como matriarca no ano de 1972, Mam'etu Mabeji, que graças a Nzambi, continua firme no comando da Ndanji (raiz)!


A Mbutu (nação) Congo Angola ou Angola de origem Bantu, têm suas próprias tradições, costumes e culturas..... Entre elas, comidas (makuria), instrumentos de culto, língua (dimi), roupagens e vestimentas próprias, tanto para os filhos como para as Divindades.

Até mesmo o adjá, instrumento de chamada através de seu som, pertence à cultura Nagô, o nosso instrumento de chamada através do som, é o Kaxixi.... Chocalho cerimonial feito de coco ou cabaça com sementes e favas dentro, que produz um som menos agudo que o adjá Nagô.

Por isso, meus irmãos e irmãs digo que são culturas e tradições muito diferentes e não há possibilidade alguma do culto das duas nações em uma única inzo (casa).

A nação Nagô Yorubá - Ketu, cultua seus Orisá de uma forma mais “humanizada”, pois seus Deuses em algum momento de suas existências, tiveram passagem na Terra em forma humana, muitas vezes vistos ou imaginados como heróis, com suas lendas e histórias!

Sua língua é o Yorubá e a maioria dos negros Nagô que chegaram ao Brasil, vinham principalmente de Benin, hoje Nigéria.
Seus Orixás (Orisá) se vestem com roupas e paramentos de muita beleza e exuberância, com seus adês, filás, coroas, espelhos, armas e indumentárias de extrema beleza, bem diferente dos Minkisi Bantu, pois suas vestimentas são confeccionadas com panos mais simples e menos chamativos, com indumentárias naturais, como favas, cabaças, ervas, chifres de animais e etc....

As armas são feitas de madeira, pois o culto aos Minkisi antecedem a descoberta do ferro e as chapas de latões e alúminios.....dispensando o uso de materiais que não sejam de origem natural (NESSA QUESTÂO, AFIRMO QUE, NÂO SÂO TODAS AS JINZO DE TRADIÇÃO, QUE FAZEM USO DESSES ELEMENTOS NATURAIS).

DEIXO CLARO QUE, ALGUMAS SITUAÇÕES ESCRITAS POR MIM NESSE TEXTO, SÃO PRATICADAS APENAS EM ÁFRICA BANTU E NÂO SE TORNARAM TRADIÇÃO EM NOSSO PAÍS).

Kukula mu kiri kia Nzambi!
(Crescer na verdade de Deus!)....

Tuasakidila Nzambi!
(Deus seja louvado!)....
 

Comentários

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Conhecimento

Makuiu Tata! Quero parabenizá-lo pelo excelente texto e esclarecedor, passei pela Angola, raiz do Bate Folha, mas o período que lá estive foi muito atribulado, fui iniciado aos 15 anos de idade, naquela época meu pai só aceitou, com todos os preconceitos, se eu não deixasse de estudar, portanto, não consegui absorver tanto conhecimento, sobretudo por ser uma nação muito fechada. Atualmente, faço parte do Nagô Vodun, onde sigo aprendendo a cada dia sobre os òrìsà, mas jamais esqueço os mimkisi, mesmo porque fui iniciado em um nkisi e assim ele é respeitado no àse! Modúpé!

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Esclarecimentos

Gostei muito da forma simples e direta com a qual o Tata fala sobre as nações Ketu e Angola. E acrescento que na minha humilde compreensão, já que ambas são formas com muita similitude de adorar o divino, fiquemos com a essência.

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Onile

Voces tem Onile na Angola? Se tem qual o nome do Nkice que representa Onile? Mukuiu Obrigado

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Re:Onile

Caro amigo,a divindade óbice ou mãe terra não se cultua em nação Angola.

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sobre o assunto

creio que cada descendente precisa preservar a sua raiz, mas tenho esperanças, que acima de tudo compreendam que o homem criou ritos de acordo com sua cultura, o que não desfaz o fato de que as divindades são essências divinas da natureza, são guardiões, e não estão subjugados a vontade, lei ou cultura do homem. aceito como verdade que os Inkisis, Orixás e voduns e outros, são manifestações divinas da natureza representados no plano fisico por espiritos evoluidos ligados a cultura do dito rito.
E todos deviam se respeitar, nem sempre os ditos puros são realmente espiritualizados, e muitos "misturados" podem ser.

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Aposkaposkak

bah que site msm nn entendo nada

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Diferencias de divindades

DALMO muitas casas de angola cultua orixa na alusão aos nkisi mais de uma forma geral o candoblé ao longo dos anos se tornaram parecidos tendo em vista que o candomblé é brasileiro um grupo de divindades cultuada no mesmo espaço e local preservando a particulariedade de cada uma se você prestar atenção quando uma pesoa vira de orixa eles são mais humanizados andão de um lado para o outra passeam pelo barracão nkisi como são transe de energia geralmente são mais parados e a varios pontos nesta diferencias que se deve observar .......lembrando candomblé é brasileiro o culto foi reformulado e as divindades semelhantes acabaram sendo caracteriszadas de forma parecida ex divindade guerreira espada divindades das aguas espelho
assim por diante ................

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Não consigo entender

Sou totalmente ignorante no tocante à Nação Angola. Visitei recentemente, pela primeira vez, uma casa dessa Nação e fiquei muito surpreso na forma diferente de cantar, tocar e dançar porém quando as "entidades" saíram, não tive surpresa alguma pois vi Omolu, Nanã e Oxumarê vestidos na sala. Pelo motivo de Angola cultuar INKISI, que são formas de divinidades diferentes de Orixás, eu esperava que viessem vestidos de outra forma. Mas não tenho dúvidas o que eu vi foram três Orixás Yorubás vestidos na sala. Alguém poderia me explicar melhor sobre o assunto?

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Re:Não consigo entender

Olá irmão. Makuiu. Se formos à África não iremos encontrar nenhum nkisi vestido com essas paramentas(coroas, capacetes, bracelete, peitorais e etc). Entretanto, também não encontraremos nenhum orisa e nem voodun vestido assim, com as referidas paramentas e saiões armados. Os capacetes usados por Nkosi e por Ogun na maioria dos terreiros, são apenas imitações do capacete de São Jorge. As coroas usadas pelas mahamba muahtu(divindades femininas) e pelas Yabas, são cópias das coroas das santa católicas. Os chapéus dos caçadores Mutakalambô e Osossi são os mesmos usados pelos antigos europeus. Ou seja, paramenta não fazem parte da cultura bantu e nem da cultura yorubá. Foi algo criado aqui no Brasil e adotado pelas nações de candomblé. No caso do azê e do gorro até são semelhantes ao que se usa na África, mas ainda assim não se pode especificar que pertence ao ketu e que o Angola estar copiando. Assim sendo, você não viu Omolu, Osumare e Nana vestido. O que você viu foi a representação com que o brasileiro conseguiu imaginar que seria divindades ligadas ao barro,ancestralidade, terra, ao arco-iris e cobra. Toda via, atualmente estar havendo um resgate muito importante da cultura bantu e muitas casas de Angola já aderiram a um novo padrão de vestimenta para nkisi\mukixi que é o uso de máscara e lanças. Como também estamos passando pelo processo de desnagotização, que caracteriza no desuso de saudações yorubas, culto dos orisas(muitas casas que se dizem Angola realmente cultua orisa por não conhecer nkisi) e vários outros fundamentos da cultura yorubá que foi misturado da mesma forma que o ketu também pegou alguns costuma bantu. Não sei como acontece nesta casa de Angola que o irmão foi...mas apenas pelo uso de paramentas não significa que eram orisas ou voodun.
Espero poder ter ajudado. Foi assim que aprendi com meus mais velhos.
ngunzu bantu!

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